Podem ver, até este domingo, "3 GODS", no Teatro da Trindade (bilheteiraOnline BOL)!
Quais as vantagens de ver esta peça?
> Todos os bilhetes ao mesmo preço (10€) e sem lugares marcados;
> Sessões de Quarta a Sábado às 21h30 e domingo às 17h00;
> Tem a duração de 60 minutos e sem intervalo;
> Actores (e autor) portugueses... e giros;
> Faz-nos pensar e aprender russo.
Se eu já fui ver? Claro! E, hoje, contar-vos-ei tudinho! Se não querem spoilers, é melhor que voltem a este texto, após terem visto esta peça incrível - Rui Neto, filho, estás de parabéns pelo teu texto!
3 GODS |
Ares - Já vou!
Hera - Não é já vou, é já!
Zeus - Oh, esqueci-me do vinho!
Hera - Não tem mal, eu vou lá. P'ra mesa.
Zeus - Obrigado amor.
Zeus e Hera beijam-se.
Luís Gaspar é Zeus, São José Correia é Hera e, Rodrigo Tomás... Ares. Estes, vivem em Odivelas.
Fonte: LoboMau - Produções |
3GODS define-se como uma metáfora para os dias de hoje, onde os deuses se tornam refugiados numa Europa em crise, pronta a colapsar (eventualmente na iminência do domínio russo), tentando sobreviver como uma família de classe média. Para além da adaptação à realidade, sofrem a mesma crise de valores que o mundo à sua volta, mergulhados em conflitos, frustrações e mentiras, numa eterna busca por resgatar a memória. É um espetáculo que parte da família, como instituição para a criação de novos mundos, e as suas falhadas tentativas na busca de identidade. Encontra âncoras dramatúrgicas na mitologia, trazendo para cena o conflito de três divindades como personagens centrais.
O que poderei dizer desta peça? Acho que é mais complexa do que pode aparentar. Acho que deveria vê-la várias vezes, para a compreender da melhor forma. Assim, este comentário, é limitado ao que consegui apanhar e fui lendo (e ouvindo) sobre a mesma.
Fonte: Rui Neto |
Fonte: LoboMau - Produções |
Bom, a São José Correia, é uma força da Natureza. É preciso acrescentar alguma coisa? Claro, as palavras, tal como os abraços, nunca são de mais para revelar a grandeza de alguém de quem gostamos. A São José, mais do que uma actriz que tem uma performance incrível em palco, tem a capacidade de levar-nos consigo, nas suas emoções. E, nós, deixamos. Confiamos no que vemos.
O Luís Gaspar, através da figura de autoridade que lhe é imposta, pelo desempenho de Zeus, demonstra uma generosidade em palco que, vidra os presentes. Para além de ser um homem lindíssimo, é mais do que isso. Porquê? Tem uma vitalidade na voz, que lhe ficará intrínseca.
O Rodrigo Tomás foi uma surpresa. Tem uma segurança em palco que deixou-me espantado. Sabemos que, fisicamente, é uma personagem que desafia a moralidade de quem vê e, isso, podendo ser reconhecida como uma imaturidade típica da sua idade, rapidamente entendemos que é de um profissionalismo reconhecido pelos pares. Este é, para mim, a maior revelação.
Em traços gerais, os actores mostraram estar ao nível do texto de Rui Neto. E isso é bom.
Fonte: LoboMau - Produções |
A ideia, apesar de boa, não me parece inteiramente nova. Já não se inventa a roda, é sabido, mas é possível parti-la (by Daenerys) e, aqui, parece ter sido dada uma "mocada" nessa história orwelliana, Mil Novecentos e Oitenta e Quatro (ver aqui). A arte serve provocar o pensamento e, com este texto, isso é possível. É, assim, um rasgo de criatividade, com boa fundamentação do século XX.
Inicialmente, a estória parece-me confusa e cheia de repetições mas, só depois, é que dou conta que tudo faz parte - somos levados para a casa, e vida, do John, Jane e Ted, que vivem em cima do café do Ulisses. Acompanhamos os desejos de Zeus, os ciumes de Hera, e os premonições de Ares. A estória ganha muito com a componente cómica, e com os "desastres" que vão acontecendo a tod@s que aproximam-se de Zeus e, em simultâneo, revela-se o crescimento de Ares e a sua vingança.
Contudo, Rui Neto, traz consigo as questões de mobilidade, tão em voga nos nossos dias. Porquê Odivelas? Porque a questão do pater familias é tão relevante no Sul da Europa? Qual o papel da mulher na sociedade e, porque motivo, esta não assume a sua força? A velha questão mundana de "cobiçar a mulher do próximo"? E as expectativas que temos em relação aos filhos? E os afectos? E, por fim, independentemente da língua que possamos falar, a nossa forma de agir permanece.
É preciso ter cuidado quando abordamos o tema da Identidade, enquanto parte de uma cultura/subcultura ou de um país. A Identidade de um país é, tradicionalmente trazida à tona por nacionalistas de esquerda e de direita e, com isso, a ideia sebastianista de um Salvador. Sou, assim, evidentemente contra a ideia de Identidade como factor karmico de um Povo (querem melhor exemplo que o de Israel?). A Identidade é uma tema difícil e, muitas vezes, evitável.
Fonte: LoboMau - Produções |
E eu a pensar que ver-me-ia nestes preparos, numa luta de lama, com Luís Gaspar... grigri grigri
Beijinhos e portem-se mal!! ;)
P.S. - Porque motivo é que não soube do casting para fazer de Hera? Coitada da São José, teve que o beijar tantas vezes... =/