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segunda-feira, 10 de junho de 2019

3 GODS

Olá!

Podem ver, até este domingo, "3 GODS", no Teatro da Trindade (bilheteiraOnline BOL)!

Quais as vantagens de ver esta peça?
> Todos os bilhetes ao mesmo preço (10€) e sem lugares marcados;
> Sessões de Quarta a Sábado às 21h30 e domingo às 17h00;
> Tem a duração de 60 minutos e sem intervalo;
> Actores (e autor) portugueses... e giros;
> Faz-nos pensar e aprender russo.

Se eu já fui ver? Claro! E, hoje, contar-vos-ei tudinho! Se não querem spoilers, é melhor que voltem a este texto, após terem visto esta peça incrível - Rui Neto, filho, estás de parabéns pelo teu texto!
3 GODS
Hera - P'ra mesa. A comida vai arrefecer. P'ra mesa.
Ares - Já vou!
Hera - Não é já vou, é já!
Zeus - Oh, esqueci-me do vinho!
Hera - Não tem mal, eu vou lá. P'ra mesa.
Zeus - Obrigado amor.
Zeus e Hera beijam-se.

Luís Gaspar é Zeus, São José Correia é Hera e, Rodrigo Tomás... Ares. Estes, vivem em Odivelas.
Fonte: LoboMau - Produções
SINOPSE
3GODS define-se como uma metáfora para os dias de hoje, onde os deuses se tornam refugiados numa Europa em crise, pronta a colapsar (eventualmente na iminência do domínio russo), tentando sobreviver como uma família de classe média. Para além da adaptação à realidade, sofrem a mesma crise de valores que o mundo à sua volta, mergulhados em conflitos, frustrações e mentiras, numa eterna busca por resgatar a memória. É um espetáculo que parte da família, como instituição para a criação de novos mundos, e as suas falhadas tentativas na busca de identidade. Encontra âncoras dramatúrgicas na mitologia, trazendo para cena o conflito de três divindades como personagens centrais.

O que poderei dizer desta peça? Acho que é mais complexa do que pode aparentar. Acho que deveria vê-la várias vezes, para a compreender da melhor forma. Assim, este comentário, é limitado ao que consegui apanhar e fui lendo (e ouvindo) sobre a mesma.
Fonte: Rui Neto
Primeiro, nunca é de mais congratular o querido Rui Neto. A peça está muito bem escrita e, na minha opinião, é urgente reflectir sobre as variáveis "rotina", "democracia" e "Rússia". Aparentemente nada têm a ver mas... têm. O Rui, para além de ser um actor competente, é um autor inteligente. Tem uma escrita suave mas afirmativa, demonstra técnica e audácia e, por isso, coragem e ainda, um terceiro conjunto de factores, sabe o que resulta em teatro e, com isso, recorre à sua própria experiência artística. A multidisciplinaridade é, assim, uma arte exímia, exercida por poucos em Portugal e, o Rui, é capaz de o fazer e, a prova, é este texto. Este, apesar de pertencer ao conjunto de artistas nascidos no pós 25 de Abril, continua a beber de uma independência que já se viu mais, e que faz falta neste país Instagramer. Os meus muitos parabéns, àquele que vai continuar a surpreender-nos.
Fonte: LoboMau - Produções
Relativamente aos actores em palco.
Bom, a São José Correia, é uma força da Natureza. É preciso acrescentar alguma coisa? Claro, as palavras, tal como os abraços, nunca são de mais para revelar a grandeza de alguém de quem gostamos. A São José, mais do que uma actriz que tem uma performance incrível em palco, tem a capacidade de levar-nos consigo, nas suas emoções. E, nós, deixamos. Confiamos no que vemos.

O Luís Gaspar, através da figura de autoridade que lhe é imposta, pelo desempenho de Zeus, demonstra uma generosidade em palco que, vidra os presentes. Para além de ser um homem lindíssimo, é mais do que isso. Porquê? Tem uma vitalidade na voz, que lhe ficará intrínseca.

O Rodrigo Tomás foi uma surpresa. Tem uma segurança em palco que deixou-me espantado. Sabemos que, fisicamente, é uma personagem que desafia a moralidade de quem vê e, isso, podendo ser reconhecida como uma imaturidade típica da sua idade, rapidamente entendemos que é de um profissionalismo reconhecido pelos pares. Este é, para mim, a maior revelação.
Em traços gerais, os actores mostraram estar ao nível do texto de Rui Neto. E isso é bom.
Fonte: LoboMau - Produções
Sobre a proposta politico-filosófica de Rui Neto, há muito a dizer. Acusa-lo de fascista ou comunista é redutor, quando o que está em análise, parece-me, algo muito maior que isso.
A ideia, apesar de boa, não me parece inteiramente nova. Já não se inventa a roda, é sabido, mas é possível parti-la (by Daenerys) e, aqui, parece ter sido dada uma "mocada" nessa história orwelliana, Mil Novecentos e Oitenta e Quatro (ver aqui). A arte serve provocar o pensamento e, com este texto, isso é possível. É, assim, um rasgo de criatividade, com boa fundamentação do século XX.

Inicialmente, a estória parece-me confusa e cheia de repetições mas, só depois, é que dou conta que tudo faz parte - somos levados para a casa, e vida, do John, Jane e Ted, que vivem em cima do café do Ulisses. Acompanhamos os desejos de Zeus, os ciumes de Hera, e os premonições de Ares. A estória ganha muito com a componente cómica, e com os "desastres" que vão acontecendo a tod@s que aproximam-se de Zeus e, em simultâneo, revela-se o crescimento de Ares e a sua vingança.

Contudo, Rui Neto, traz consigo as questões de mobilidade, tão em voga nos nossos dias. Porquê Odivelas? Porque a questão do pater familias é tão relevante no Sul da Europa? Qual o papel da mulher na sociedade e, porque motivo, esta não assume a sua força? A velha questão mundana de "cobiçar a mulher do próximo"? E as expectativas que temos em relação aos filhos? E os afectos? E, por fim, independentemente da língua que possamos falar, a nossa forma de agir permanece.

É preciso ter cuidado quando abordamos o tema da Identidade, enquanto parte de uma cultura/subcultura ou de um país. A Identidade de um país é, tradicionalmente trazida à tona por nacionalistas de esquerda e de direita e, com isso, a ideia sebastianista de um Salvador. Sou, assim, evidentemente contra a ideia de Identidade como factor karmico de um Povo (querem melhor exemplo que o de Israel?). A Identidade é uma tema difícil e, muitas vezes, evitável.
Fonte: LoboMau - Produções
Não quero com isto dizer, naturalmente, que há temas (e outros não) que devem servir como base para a criação artística. Apenas realço a importância pedagógica, que a cultura pode desempenhar, através de um lugar de destaque atribuído pela Sociedade. Deste modo, sou levado a concordar com o eu lírico presente na estória - já vivemos estes tempos, a partir do momento que já usamos várias expressões de outros países e, nem por isso, somos "descaracterizados culturalmente". Um bom exemplo disso é França. A meu ver, Rui Neto, deve continuar a desenvolver os seus pensamentos, independentemente de tipos como eu, dissermos o que quer que possamos dizer. Acredito, convictamente, que Rui Neto continuará por aqui, a apresentar as suas ideias Nostradamus e, isso é tão bom! Esta peça, que seja a semente de novos textos, com que seremos brindados futuramente!

E eu a pensar que ver-me-ia nestes preparos, numa luta de lama, com Luís Gaspar... grigri grigri




Beijinhos e portem-se mal!! ;)

P.S. - Porque motivo é que não soube do casting para fazer de Hera? Coitada da São José, teve que o beijar tantas vezes... =/

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