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sexta-feira, 20 de abril de 2018

O Último General

Meus senhores, eu whisky não tenho, mas posso oferecer a todos café e água.
- António Ramalho Eanes

Boa noite!

Se tenho um ídolo político, ele é o General Ramalho Eanes. A sua honestidade, é o melhor adjectivo que se pode associar a este que foi o primeiro Presidente da República democraticamente eleito.
Eu, e à semelhança de tantos outros, pouco sabia ao detalhe quem foi este homem para Portugal.

Na próxima quarta-feira, assinala-se a Revolução de Abril. Este dia, deve ser lembrado sempre, não por aquilo que falta conquistar, mas por aquilo que se conquistou. No ano anterior, já falei sobre a maior consequência deixada pela Revolução e, este ano, falarei sobre O Último General.
Ramalho Eanes: O Último General, por Isabel Tavares
Foi-me oferecido este livro, há poucas semanas. Conferenciei com uma pessoa conhecida, o quanto admiro o General Ramalho Eanes. Assim, por surpresa, essa pessoa chegou-se a mim oferecendo-me o livro e pedindo-me desculpa... Desculpa de quê? Bom, esta pessoa é vizinha de Ramalho Eanes, na Madre de Deus, e foi ter com ele para que este fizesse-me uma dedicatória contudo, este recusou, visto que apesar de ser uma Biografia Autorizada, há partes em que ele não concorda e, como tal, não o assinaria. E aqui está o pedido de desculpas: não ter o livro autografado. Como devem calcular, agradeci a simpatia pela tentativa, mas que não fazia qualquer mal o livro não estar assinado até porque, a oferta do livro já é um acto de grande generosidade e que muito agradecia a sua atenção.

(...)
Também não vai ao cinema
nos cafés nunca entrou
e no amor - penso eu -
que ele nunca namorou.
(...)
Só gosta de ser ciclista
pois quer ser às do pedal
e então é vê-lo nas ruas
e às vezes... no hospital.
(...)


João Silva (frei Roy), sobre o colega Tó Ramalho
- página 35.

Todos os dias lia algumas partes do livro e, como deverão calcular, já o terminei. O livro é incrível. Aprendi tanto sobre ele, que é impossível resumir num só texto. Assim, publicarei aqui 3 excertos do livro, onde também vocês podem retirar as vossas próprias opiniões a respeito do nosso General.

Perguntei a Ramalho Eanes se gostaria de ler este livro antes de ser publicado, o que recusou, como recusou o direito de contraditório. E justificou-se com dois pequenos e muito elucidativos episódios. Contou-me que, em tempos, sempre que ia a Castelo Branco, alguém lhe recordava que devia visitar uma senhora de idade já avançada que se lembrava de ter andado com ele ao colo. A senhora, que contava esta história a toda a gente, fazia muito gosto em revê-lo antes de morrer. Eanes garantia que nada daquilo era possível, os factos não coincidiam, mas, face a tanta insistência, acabou por ceder. E aconteceu o inevitável: o António não era, afinal, Ramalho Eanes, mas um primo seu com o mesmo nome. Podia ter mantido o equívoco, mas Manuela Eanes desfez o engano, sem querer, e acabou com a felicidade da senhora, que durante toda a vida acalentara aquela ideia. A partir desse dia, Eanes e a mulher acordaram que jamais voltariam a desmistificar uma memória, uma boa memória. «Se é feliz, é assim que deve ficar.»
- página 16.

Esta passagem, para mim, é a melhor do livro. Concordo com ele. Muitas vezes, o melhor que temos a fazer, é não fazer nada - deixar a pessoa com boas recordações, mesmo que saibamos a verdade. Não temos o direito de estragar memórias, mas sim o direito espalhar boas energias!



Foi em Évora, a terra de Granadeiro, que se registou o incidente mais grave. O comício foi dentro da praça de touros (hoje transformada num centro comercial) e já se ouvia vozearia do contra. À saída, iniciando o trajecto na Avenida da Circunvalação, entre o jardim e o bairro Sá Morais, debaixo de uns grandes plátanos, «o condutor, que, por acaso, não era o primeiro-sargento Serra, deixa um espaço entre o carro da segurança da frente e o carro da segurança de trás, o que não podia acontecer, tinham de ir praticamente colados. Apercebi-me de que um tipo que estava em cima de um muro ia tentar alvejar o carro, tive essa percepção. Depois a segurança actuou, deu-lhe um tiro e ele caiu. Impressionou-me imenso. A segurança deu vários tiros para o ar para dispersar e cortaram os ramos dos plátanos, que nos caíram em cima. E o general Eanes, que ia sentado ao lado do motorista, subiu para o tejadilho. O tipo de bigode que está a agarrar as pernas do general para ele não cair sou eu», descreve Granadeiro.
- páginas 120 e 121.

Depois de ler o livro, fiquei com vontade de conhece-lo. Ir à Miguel Bombarda, marcar reunião, e ir lá apenas para agradecer aquilo que fez por mim. Pode ser parvo. Ou talvez não. Já o fiz antes.
Cada vez mais, acho que isso é importante - agradecer às pessoas, dizer o quanto é que elas são importantes para nós e, não ter vergonha de demonstrar os nossos sentimentos ou fraquezas. =)

Os heróis que temos, por norma, são os super heróis ou os nossos pais. Bom, os nossos pais são sempre aqueles heróis que temos no quarto ao lado, fazem-nos uma canja quando estamos doentes, ou dizem "Não tens outra camisa? Essa faz-te mais gordo"... enfim, coisas de pais.
Mas depois há os outros heróis. Aqueles que milhões de pessoas acreditam, seguem, admiram.
Não, não falo de José Sócrates ou Bruno de Carvalho, falo de Martin Luther King Jr. ou Anne Frank.
Cada um à sua medida são exemplares, tal como ainda acrescentaria o General Ramalho Eanes.

A pessoa que ofereceu-me o livro, conhece-o há vários anos. Conta-me várias histórias dele e da mulher. Não sei explicar, mas comecei a gostar dele. Admiro-o e quero saber mais sobre ele.
Depois temos o seu humor. Sim, olhando para ele, ninguém diria que é um tipo bem disposto!!

Nesta fase, outro episódio prova o ascendente de Eanes. E o seu humor. A CAP, Confederação dos Agricultores de Portugal, ameaça vir a Lisboa num fim-de-semana inundar a Avenida da Liberdade com fruta. O regimento de comandos é uma unidade operacionalmente dependente do Estado-Maior do Exército (Eanes) e administrativamente dependente da Região Militar de Lisboa (Vasco Lourenço). O que leva Vasco Lourenço a Santa Apolónia para pedir a Ramalho Eanes que coloque o regimento de comandos sob a sua ordem operacional. «Porquê?», quer saber. «Tenho uma missão para eles», responde. «Mas tem de chamar o Jaime Neves para lhe dar a ordem directamente à minha frente», pede Vasco Lourenço. Eanes concorda, chama Jaime Neves e dá a ordem. No instante seguinte, Vasco Lourenço avança: «Ó Jaime, tenho uma primeira missão para te dar. A CAP diz que vem a Lisboa inundar a Avenida da Liberdade com fruta a partir do Marquês de Pombal. A tua missão é evitar isso. Se houver uma peça de fruta a rolar na Avenida, tu não cumpriste a missão e levas uma porrada. Queres a ordem por escrito?» Eanes, que assistia à cena de camarote, ria, enquanto Jaime Neves maldizia a vida e se perguntava como conseguiria cumprir a missão. «Não és amigo do Casqueiro? [José Manuel, secretário-geral da CAP]» «Sou». «Então, resolve o problema», desenrascava-se Vasco Lourenço. Passado pouco mais de meia hora, a CAP emite um comunicado a cancelar a manifestação.
Peripécias como esta não faltam. E ainda antes de o governo de Pinheiro de Azevedo cessar funções, a 23 de Junho de 1976, houve necessidade de um novo empréstimo a Portugal. Foi já depois das eleições legislativas ganhas por Mário Soares, mas antes de este ter tomado funções como primeiro-ministro. Uma vez mais, Mário Soares vai à Alemanha falar com Helmut Schmidt, acompanhado de Vítor Constâncio, para explicar a evolução positiva da economia portuguesa e as linhas do programa económico do futuro governo. Lá vieram mais 250 milhões de dólares.
- páginas 110 e 111.

Ramalho Eanes: O Último General, um livro da Editora D. Quixote.




Beijinhos e portem-se mal!! ;)

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