Em Setembro: lê as entrevistas EXCLUSIVAS aos realizadores Miguel Gonçalves Mendes, Gonçalo Almeida e ainda ao Director do MOTELX Pedro Souto! =D

quinta-feira, 19 de março de 2015

De 3 para 2

Boas.

Quando chegamos da terra, dia 7 de Janeiro (4f), percebemos que tínhamos sido roubados. Faltava-nos várias coisas. A minha mãe foi de imediato ao seu roupeiro e viu que não havia qualquer roupa do meu pai, rápida dedução - o meu pai foi-se embora, levando várias coisas consigo, aproveitando-se do funeral do seu sogro.

O que fizemos? Ligamos logo à Polícia e chamamos algumas pessoas que pudessem ser nossas testemunhas.

O que levou ele? De tudo um pouco. Levou (para além de todos os seus pertences) alguns tachos, conjuntos de cama, ourivesaria vária, livros (que ele nem lia), material eléctrico, etc etc etc e todo o equipamento dos canais por cabo, da internet e até o telefone fixo!

A policia nada vez, pedindo apenas que levássemos até eles um papel com a lista exacta dos bens desaparecidos.

A minha mãe ficou obviamente mal nesse dia. O que mais temíamos era o seu regresso a qualquer momento, pois não tinha deixado as chaves em parte nenhuma da casa.

No dia seguinte, na parte da manhã, a minha mãe foi dar a cara à empresa que gere o condomínio do nosso prédio pois, pelo que sabíamos, ele tinha ficado a dever. Eles, muito tocados com a história, contactaram uma Associação que nos iria apoiar. Nesse mesmo dia, à tarde, a minha mãe encontrou-se com uma pessoa que lá trabalha, a IP. Encontraram-se na Policia pois era para fazer queixa, etc. Contudo, apenas conversaram e a ideia era fazermos uma queixa conjunta - quer e a minha mãe, quer eu.

No dia seguinte fomos a uma PSP, apresentar queixa.... estivemos lá umas 5h.... cada um a sua queixa e as demais burocracias. Ambos tivemos direito ao Estatuto de Vítima.

Durante umas semanas a minha mãe teve de baixa... Nesse tempo, fizemos alteração de titularidade a todos os contratos de casa, inclusive, voltamos a pôr tv por cabo, net e telefone.

Há relativamente pouco tempo fomos à Secção Criminal para voltar a dizer tudo o que nos tinha acontecido. No dia que me calhou (que foi diferente do dia da minha mãe), voltei a dizer tudo... Fui vítima de crime de ódio pelo meu pai - homofobia dentro de casa. Quando me perguntaram se eu queria que fosse a Tribunal, eu disse que sim. Quando me perguntaram se eu queria que ele fosse preso, eu disse que não. Quando me perguntaram se, algum dia eu seria capaz de voltar a falar com ele.... eu disse que sim. Nunca digo nunca. Ele é meu pai e eu serei para sempre filho dele.

A família não se escolhe.
Feliz dia do Pai.

(Soube que morreu um familiar do meu ex-namorado. Voltei a receber chamadas anónimas. Será coincidência?)


Beijinhos e portem-se mal!! ;)

terça-feira, 3 de março de 2015

O último Patriarca

Olá.

Está a fazer dois meses que morreu o meu avô materno.

Sábado, dia 3 de Janeiro, íamos nós (eu e a minha mãe) começar a almoçar (14:30 +/-), quando recebemos a chamada com a notícia que nunca queremos receber.

A assistente social do lar onde estavam os meus avós, ligou-nos a informar e a exigir ser ela a tratar do funeral. Contudo, e devido ao histórico de má conduta de tal pessoa, nós já tínhamos providenciado as coisas.

Ligamos logo para a restante família materna contudo, ninguém nos atendia. Era então altura de ligar para o meu irmão... a minha mãe ao perguntar se ele viria a Portugal para o enterro do avô, ele apenas e só preocupado com as custas do funeral [desde esse dia, nem a minha mãe ligou-lhe, nem ele ligou à minha mãe. Escusado será dizer que não veio ao funeral]. Contudo, por insistência do meu irmão, a minha mãe ligou ao meu pai que, aquela hora, não estava em casa. Ligou-lhe e, ao receber a noticia, comentou "Sorte a tua e a dele".

Não sabíamos o que fazer, mas tínhamos de ir à terra. Assim, começamos a ver os horários e a fazer as malas. Não tínhamos qualquer informação de que família iria ao funeral, portanto, a minha mãe ligou para uma amiga de lá da terra, ao qual muito  afectuosamente nos confirmou oportunidade de lá ficarmos alguns dias e andar connosco para onde precisaríamos.

Domingo lá apanhamos o autocarro e, o casal amigo foi-nos lá buscar. Chegamos ao inicio da tarde contudo, como se tratava de um domingo, toda a cidade estava fechada... o que havia era um café que não tinha nada nas vitrinas.... acabamos por alguma uma tosta mista que nos sabia a ranço! Enfim, fomos então para a Vila da minha mãe. Quando chegamos, fomos logo para o velório, onde já estava a minha avó.

Nunca tinha estado num velório e, sinceramente, não sabia como me comportar. Enfim, lá fiquei. Ambiente complicado... a maior parte das pessoas não conhecia, mas as pessoas sabiam quem eu era. Família distante que nunca tinha visto e que me vinham dar os pêsames. A pior situação foi quando a minha mãe foi ter com o seu pai... não consegui, tive de ir para fora da casa mortuária... aquilo que ela dizia, toda aquela situação... enfim, demasiado triste.

Cá fora e já lá dentro, só se falava de um assunto: não há café! Sim, não há a máquina do café! Explico: toda aquela gente estava contra nós, porque não deixamos que a assistente social ganhasse a comissão da agência funerária lá da terra e, portanto, resolveram numa atitude de anticristianismo, digamos, boicotar o velório e o funeral de um senhor querido por todos, com 91 anos, isto porque não havia café! O cumulo disto, é que as pessoas diziam isto no velório, nos cafés onde entravamos e, algumas pessoas vinham directamente tirar satisfações desse mesmo facto. Incrível.

Entretanto fazia-se muito frio e, a minha avó foi para o lar. Tinha que haver sempre alguém da família no velório portanto, fui jantar e depois foi a minha mãe. Quando estava na casa mortuária, tinha umas 4 beatas que depois foram-se embora. Fiquei, sozinho, durante algum tempo. Se sentia medo? Não. Ainda me levantei e caminhei por lá (fazia muito frio!)... tinha ao meu lado o meu avô e o seu caixão aberto... Entretanto chegaram uma prima de um primo meu com o marido e depois chegou a minha mãe... Passado um pouco, chegou a irmã da minha mãe (com a sua filha mais nova, mas que tinha ido logo para casa delas na vila), que tinha vindo de França. Entretanto já eram 22:30 +/- e fechamos aquilo. Fazia mesmo muito frio e não havia ninguém na rua.

2ªfeira, foi o dia do funeral e vi aquilo que não queria ver. Fomos então abrir a casa mortuária. Eu, a minha mãe, a minha tia e a filha dela. A minha prima fez algo que, a meu entender, não o deveria fazer, mas pronto.... tirou o lenço que estava sobre o rosto do meu avô e disse que não deveria estar lá nenhum lenço pois as pessoas sabem para o que vão... enfim.... então vi a cara do meu avô. Por estranho que pareça, não foi tão complicado quanto julguei...

Era então altura de chegar a Irmandade, ao qual o meu avô pertenceu. Depois das suas palavras, era altura de pegar no caixão. Aproximou-se um primo afastado, um amigo, um sujeito da irmandade e atrás de mim ouvi "Vá, tens de ir" e ao mesmo tempo fui empurrado e fui... dou aquele passo para a frente sem saber o que fazer... não sabia o que fazer e só me lembrava que tinha de pegar no caixão do meu avô... Só pensava que tinha de ter força, desse por onde desse... saímos da casa mortuária e depois tivemos que subir uns degraus de pedra para entrar na igreja. Algo complicado mas fizemos. Depois da missa, voltar a pegar no caixão. Tenho a noção que provavelmente estava todo torto a levar o caixão..... sabia que tinha de ter força para aquilo.... voltar a descer os degraus de pedra (mais de 5) para pôr na carrinha funerária. Cortejo fúnebre, a pé, para o cemitério [em que o assunto era a máquina do café]. Quando lá chegamos, voltar a pegar no caixão para o cemitério, mais umas palavras da irmandade (voltou a abrir-se e a fechar-se o caixão) e levou-se para o terreno de família. Lá fui para perto do fosso.... só tinha medo de escorregar e cair para uns 4 metros de fundura!....

Afastei-me e puseram o caixão lá dentro mas... não cabia.  Lá estiveram os 3 homens a pegar com cordas e a tentar pôr e tirar o caixão de todas as formas possíveis até que se chegou à conclusão que o coveiro não abriu com o cumprimento necessário! Voltou a tirar-se o caixão de lá de dentro para o outro acabar o que tinha feito mal. Nesta altura, estava eu e a minha prima ao pé daquilo tudo e o resto das pessoas estavam um pouco mais afastadas. Aproximou-se uma coscuvilheira a querer conversa e só dizia "pois, isto acontece porque é outra agência funerária... se fosse a agência daqui não acontecia.... são lá de Lisboa, não sabem como são aqui as coisas...". Não aguentei estar calado e respondi-lhe "Não é nada disso. Não fale do que não sabe." Ela repetia o que dizia e eu falava ao mesmo tempo "Não fale o que não sabe. Não fale o que não sabe. Não fale o que não sabe. ..." Até que desistiu e foi para ao pé das outras pessoas.

Curiosidades:
A verdade é que o coveiro é daquele cemitério, a junta de freguesia não deixou que a agência levasse o próprio coveiro. Tivemos toda a gente contra nós. A minha mãe foi a única pessoa que pagou a totalidade do funeral. Eu comprei um ramo de 3 rosas brancas e foram as primeiras floras aos pés do meu avô. Fui o único descendente homem presente em todas as celebrações. Fiquei com a samarra do meu avô... ao vestir percebi que me ficava lindamente e até parecia que tinha sido feito à medida (coincidências?!) e estava em óptimo estado. Só chorei quando ouvi de uma funcionária e quando contei à minha prima, como o meu avô morreu.

A morte do meu avô foi, simplesmente, angelical...
Ele é, sem dúvida, o último grande homem que conheci.

Mais do que pai, é um conciliador.
Mais do que homem, é um exemplo.
Mais do que um ídolo, ele é o meu avô.

Quando chegamos a casa, percebemos que tínhamos sido roubados mas isso, fica para outro dia.


Beijos.