Olá Olá!
É verdade - faço voluntariado. Já faço voluntariado há uns anos mas, sempre, em acções pontuais. Queria algo mais sério. Queria, realmente, fazer a diferença na vida de alguém. Sempre que fiz voluntariado, era algo bastante complicado: cada organização, tem diferentes formas de trabalhar e, em algumas vezes, sentia-me realizado todavia, noutras, sentia-me um escravo e, até, humilhado.
Antes de começar a participar, enquanto voluntário, em acções pontuais, investiguei sobre o assunto. Todavia, tinha muito medo. Tudo aquilo que sabia que necessitava de voluntários, era para trabalhar com pessoas portadoras de deficiência e, com doentes hospitalares (dar comida à boca, etc). Sinceramente, nenhuma dessas duas áreas suscitava-me interesse. E mais, tinha medo de errar e, de prejudicar alguém. Já viram a responsabilidade que é, alimentar uma pessoa incapaz de o fazer? Ou, até, de fazer companhia / participar em actividades com pessoas portadoras de deficiência - eu não sei lidar com autismo, e as demais doenças psicológicas... e se eu fizesse merda? Não, não, não!! =(
Contudo, a ideia nunca desapareceu. A semente existia. A vontade estava lá. Mas faltava... qualquer coisa! Fui "empurrado" - e, diga-se, bem empurrado! - , para este Mundo que se abriu, mesmo diante dos meus olhos. Quem foi, quem foi, quem foi? Uma colega de turma, mais velha, que fazia voluntariado. Onde? No IPO de Lisboa, dava o almoço aos doentes terminais. Disse-lhe logo, que não conseguia fazer aquilo... estar em contacto, sistematicamente com pessoas doentes, não iria aguentar. Ela disse-me que só o fazia, porque foi lá que o seu marido tinha morrido e, assim, sentia-se obrigada em ajudar quem não tem apoio dos familiares e, a maneira que ela encontrou, foi alimentar os doentes que sofrem com a mesma doença que vitimou o grande Amor da sua vida...
Pensei naquilo. Mas, de facto, não tenho a capacidade emocional de estar em contacto com doentes e, como ela própria dizia (e diz, porque continua a ser voluntária no IPO), às vezes apercebe-se que, aquela pessoa que está a alimentar, não irá durar mais uma noite ou, às vezes, quando volta passado uns dias, vê que as camas onde tinha estado, estão a ser ocupadas por outros doentes (os que lá estavam, morreram entre tanto) e, acrescentava: "o que mais me custa, é ir à ala pediátrica...". Fora de questão! Acho que, se fosse para um sítio desses, passaria todo o tempo a chorar e, em vez de dar Força, e distracção, seria ainda pior! Não! Eu tinha que sentir-me bem, para onde fosse! Tinha que ser um projecto que emocionalmente, fizesse-me crescer e, pudesse melhorar a vida de alguém. Lá está, ganhar Mundos! Evoluir, melhorar enquanto Homem, e ser uma pessoa mais lúcida e solidária.
Investiguei mais a fundo, contactei alguns locais e, apercebi-me, que os reclusos são alvo de acções voluntárias. Senti que seria um projecto a ter, durante uns bons meses... Queria perceber, o homem que é condenado (porque sim - ele tem uma história que, não é melhor nem pior que a tua)! Posso julgá-lo? O que sei eu da vida de alguém que rouba? O melhor de assistir a julgamentos, é perceber que temos muito a agradecer a vida que temos e, há vidas, tão mas tão difíceis... Não desculpo quem rouba, apenas quero entender a pessoa que existe, para além do óbvio! Porém, por aconselhamento de alguns amigos, não me meti nas Prisões. Tenho pena. Sociologicamente, penso que seria uma mais valia para mim. Assim, tinha que arranjar uma solução. Para onde deveria ir?
Pensei em dar explicações a crianças de Bairros Sociais, tentando assim evitar o Abandono Escolar. Porém, quando começamos a conhecer "certas e determinadas" associações e projectos, só nos apetece é fugir! Deste modo, tinha que encontrar outra coisa. Não imaginam o tempo que perdi nisto! E-mails para cá, chamadas para lá, reuniões, dilemas existenciais... Mas eu estava decidido: queria ser voluntário, durante um ano, todas as semanas! Queria mudar a minha vida, mudando alguém!
Ser voluntário é uma acção egoísta, penso. Fazemos, porque queremos sentirmos-nos bem. Todavia, estamos a dar tanto aos outros que, depois percebemos, que nós é que estamos a ser alvo de voluntariado. Os outros é que nos ajudam. Levamos com um banho de Humildade, de Realidade, e de Nós-Mesmos, que nem vos passa pela cabeça! Assim, resolvi meter-me com um público difícil porém, tinha certeza que conseguiria desenvencilhar-me: os idosos. Aqueles dos Lares, que comem através de sonda? Que passam os dias sentados, a babarem-se? Não! Os das Academias Seniores!
Então, assim foi. Depois de ver vários projectos, correspondi-me com alguns deles e, depois de reunir-me com o projecto que mais dava-me estabilidade e, melhor satisfazia os meus interesses, aceitei. Assim, durante o ano lectivo 2017/2018, fui professor voluntário, e tinha como alunos, malta com idade para serem meus avós! Foi uma experiência... incrível! Ganhei-lhes o respeito e, o mesmo aconteceu com eles, em relação a mim. O facto de dar aulas a pessoas de 70 e 80 anos, homens e mulheres, fazia-me ver tantas coisas... E as discussões que tínhamos em aula? Lindo! Aprendi tanto com todos eles! Eu! Eu é que fui alvo de voluntariado! Eu, o puto daquilo, mais novo que os netos mais novos de alguns deles, estava ali a dar aulas. Foi difícil. Foi duro. Foram meses rijos mas... repetia-os!
Óbvio que fiquei com o contacto de alguns deles. Falamos-nos. Já fui a uns almoços, mesmo já sem continuar lá! Ainda agora, por exemplo, fui ao Almoço de Natal da Academia Sénior, e já nem sou professor... Incrível. Incrível. Um projecto bem pensado que, muda a vida a tanta gente! Muitos dos meus alunos, eram pessoas que não querem entregar-se a algo. Uns, viúvos, outros com problemas oncológicos, outros a solidão mas, todos tinham uma coisa em comum: vontade de si próprios!
Lamentavelmente, e visto que estou no terceiro - e último -, ano da Faculdade, não estou envolvido em qualquer projecto de voluntariado de forma continua. Todavia, não tenciono parar. Conhecem a Filantropia? Pois, em Portugal não se liga nenhuma mas, nos EUA, é bastante comum. Estabeleci contactos e já comecei a ajudar pessoas de todo o país, sem eu sair de casa! Quando se quer!...
Para este 2019, peço que reflictam nisto. Pensem, de forma séria, em ajudar os outros. Apoiar e... serão apoiados. Não falo na caridadezinha. Sejam homens, porra, com os colhões no sítio, e ajudem! Encontrem a vossa vocação, enquanto voluntários, e transformem a vida de alguma pessoa.
Pensem. Ser blogger, leitor, comentar aqui ou ali, e ser treinador de bancada, não é ser voluntário.
Ajudem, cara-a-cara, os outros. De forma regular, mas com entrega total da vossa parte. Tenho a certeza, que tornar-se-ão, ainda mais, pessoas melhores. Cresçam, que ainda vão a tempo! =)
Beijinhos e portem-se mal!! ;)
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