Sabem aquele livro que saiu este mês, sobre as pessoas LGBT's? Fui convidado a participar todavia, por motivos alheios à oferta deste texto para publicação, o mesmo não foi integrado no projecto.
Tendo em conta que o texto é sobre alguém que admiro muitíssimo, e como penso que ninguém deve ser privado de se exprimir (mesmo no anonimato), ofereço-vos (tal como sempre), estas palavras! =)
Fonte: Página de Facebook do Diogo Infante |
Só aos 16 anos, é que passei a ter net. Até lá, e durante o meu crescimento, as figuras masculinas que me suscitavam interesse sexual, eram aquele modelos bombados em fatos de banho, ou o Ricky Martin (aquela grande bechona!). Eram estas personagens, que despoletavam a seiva natural existente na minha pessoa. Entre os tantos homens musculados que apareciam nas revistas, nem todos eram giros. Os giros, eram os outros – os homens normais. Esta fase, foi a mais difícil da minha vida, um autêntico “winter is coming” (ou, em dias mais felizes, cumming): aprendi a ler tarde, não tinha amigos, era sempre o último a ser escolhido para jogar à bola, os rapazes gozavam comigo, o cancro de mama da minha tia… enfim, uma infância perfeitamente normal. Tinha défice de referências, ídolos, homens de como gostaria de ser; sem plumas, sem palavras de ordem, sem merdas – simplesmente, seguir as pisadas de alguém. Mas de quem? Quem seria essa pessoa? Quem?...
Diogo Infante, sempre foi para mim, o inacessível. O inalcançável. Conto pelos dedos de uma mão, quantos dos artistas que temos, que tenho a certeza que poderiam ter sucesso “lá fora” e, este, é um deles. O Diogo Infante, não despertava as hormonas que estavam em mim; suscitava o meu cérebro. Ambicionava-o. Queria ser como ele. “Mas, como ele, como?” Não sei. Ter aquele sorriso naturalmente charmoso, ser intelectualmente desafiante, e ter um olhar doce e confiante.
O Diogo Infante, foi a minha primeira paixão.
Como todas as paixões, esta também era possível, sendo para isso, que ambos o quisessem. E, para mim, era só uma questão de tempo… tempo de crescer.
À medida que ia amadurecendo, mais distanciava-se esta paixão. Mais tomava consciência que a homofobia existia. Mais tomava consciência que, não é por gostarmos de um homem, que ele também gostaria de nós… enfim, a dura realidade que a heterossexualidade existe! Ao mesmo tempo, ele, ia fazendo coisas mais e mais incríveis; enquanto eu, rezava a todos os santinhos (e mais alguns!), para passar àquele teste de matemática e, as minhas maiores preocupações, restringiam-se à escola. Era um fosso sem fim.
Para minha enorme surpresa, soube que o meu homem (entre aspas, claro!...), afinal seria gay! Pensei logo: “Como é que um homem destes é gay?”! É verdade, também existem gays bonitos e, nem todos têm de ser acéfalos, ou passar os dias a levantar ferro. Então, e passados tantos anos, cheguei à conclusão, que ainda poderia ter esperança! Ainda poderia existir, o mais belo casal gay em Portugal! E, ainda por cima, ele joga ténis 2 vezes por semana – há algo mais masculino, num homem, do que os seus bíceps bem treinados?... Não contando com os bíceps do braço direito dos solteiros, óbvio.
Durante anos, ecoava nos meus sonhos mais românticos (e, também, nos libidinosos!), a voz deste homem: confiante, amigável, e serena. Aliás, a sua voz, faz levantar qualquer bandeira… Desculpem, não resisti àquela piada nerd eurovisiva!
Há pouco tempo, revi o Diogo. Sim, ele mesmo!! Então? Bom, fui ver a peça “Quem Tem Medo de Virginia Woolf?”, ali, no Teatro da Trindade. OMFG! Como seria normal, não decepcionou. Há sempre aquela coisa, “não queiras conhecer o teu ídolo, para não teres uma desilusão”… bardamerda para os coninhas! Depois de ter perdido o cantor Peter Burns (ainda hoje, ele dá-me volta à cabeça!), encaro os ídolos de uma forma mais humana e, o Diogo, é isso mesmo. Poderia agora, rasga-lo de elogios, patati patata, mas todos nós sabemos quanto vale o “nosso homem” – ele é, o Cristiano Ronaldo da representação e eu… sei lá, o apanha bolas?!
Porque isto é a vida! Nasci em 1992 (oh yeah, um “garoto”, como se diz no Grindr… aliás, eu não sei! Apenas ouvi de relance na rua…!) e, o Papai, em 1967. 25 anos separam os nossos caminhos. Ao longo destes anos, floresci. Aprendi a maior de todas as lições: não devemos idolatrar as pessoas, apenas as suas acções. E mais: devemos, todos, fazer uma reflexão. Olhar para dentro de nós próprios, e ver que, não devemos seguir cegamente os outros – mesmo quando julgamos serem perfeitos –, devemos ser o exemplo de nós próprios, devemos ser o Sol, e não procurar o Sol nos demais. A escuridão que todos temos, não é solução de nada… como diria a outra, “Je suis Malade”. O Sol está em nós, tal como o vazio. Os nossos amigos (amigos mesmo amigos, não aqueles a quem proporcionamos, ou que nos proporcionam, “finais felizes”), família (o Bobi conta, ‘tá?!), e aqueles momentos que nos dão prazer (como ler um livro técnico, ouvir os Kazaky, ou descer a Avenida da Liberdade [não a subir, claro, que subir cansa as pernas]), são os ingredientes para viver bem! E é isso que tento fazer, todos os dias: juntar as quantidades certas destes três ingredientes, para ter um bom futuro e é isso que vai acontecer. Mais do que rever-me nos outros, revejo-me nas minhas acções e, não preciso de ninguém, para certificar se aquilo que faço é bom ou mau… isso, aprenderei sozinho, tal como cada um de nós aprenderá. A ambição dos vizinhos, envenena os nossos sonhos. E, o meu sonho, é só ser feliz. Conseguirei algum dia?
É isto que mais gosto das pessoas – serem reais. Não terem aqueles tiques de vedetismo, ou aquele desdém que muitos psudo-artistas têm, quando só têm no cérebro serradura. Ser um ídolo, é ser mais do que a banalidade, mais do que ser vulgar… é ser ímpar na mundanalidade. É isto que é o Diogo: um actor que faz teatro, séries, novelas, filmes (Oh Diogo, desculpa lá que te diga, isto é assim, gosto imenso de ti pá, mas tenho de ser franco contigo: no “Pesadelo Cor-de-Rosa” (1998), a cor de cabelo que estavas a usar, não ficava-te nada bem! Vá, beijinho, era só isto!)... Mas bem, é por isso que ainda admiro o Diogo, passados tantos anos. É um homem, com tantas particularidades como eu, ou tu. Não importa de que equipa possamos jogar, ou que limite possa ter o nosso género… o esforço, a dedicação, e a qualidade, não tem paredes, nem território, simplesmente surge – depende simplesmente de nós. E foi aqui, que surgiu o Diogo Infante: um homem como qualquer um, mas com um dom diferente de todos os outros. Qual é esse dom? Bom, encontrem-no, tal como eu já o descobri!
Ele faz o seu dever. Assim façamos nós o nosso. Bela vida!
Boa viagem! Boa viagem!
Boa viagem, meu pobre amigo casual, que me fizeste o favor
De levar contigo a febre e a tristeza dos meus sonhos,
E restituir-me à vida para olhar para ti e te ver passar.
Boa viagem! Boa viagem! A vida é isto...
Álvaro de Campos, Fernando Pessoa."
Beijinhos e portem-se mal!! ;)
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